quarta-feira, 21 de março de 2012

Análise política interessante veja: Ideias-força e a perda rosalbista do voto natalense

O papel que as ideias representam nos processos sociais e políticos foi o grande ponto de corte entre os pensadores Max Weber e Karl Marx. Weber, preocupado em demonstrar o aspecto material e, consequentemente, a força impulsionadora que as ideias geram, avançou para além do marxismo. Não o negou, conforme alguns que utilizam marxometro tentam demonstrar para criar uma rivalidade inexistente, além de infrutífera. Usou o velho barbudo, aliado a outros teóricos, para superá-lo. Há pelo menos três idéias-força que, solidificadas, retirarão os votos de Rosalba Ciarlini em Natal e, talvez, na grande-natal.
A primeira tese que lhe trará significativo revés eleitoral, o que já vem ficando claro com a deterioração da sua avaliação na cidade conforme pesquisas de opinião, é a de que é o seu marido e não ela quem governa o RN. Ora, o fato de ser Carlos Augusto e não ela quem dá as cartas, algo que vem sendo enfatizado desde as eleições pela oposição, contraria todo um contexto de afirmação das mulheres, da ênfase contemporânea, contra todos os preconceitos do passado, na capacidade feminina e, inclusive, da solidez de uma administração produzida pelo gênero feminino.

Os seus opositores estão conseguindo colar no governo à noção de que o ex-deputado estadual é o grande líder da atual gestão rosada. Enquanto Rosalba aparece cada vez mais como uma mulher subserviente, Wilma de Faria, um pouco desgastada, mas talvez, ainda hoje, a principal figura da oposição, construiu parte de sua imagem como uma mulher guerreira. Aquela capaz de desafiar “os poderosos”, inclusive, o próprio marido para seguir na consolidação do seu projeto político. A identidade wilmista se aproxima muito mais da figura da mulher urbanizada natalense do que a de Rosalba Ciarlini.

A comparação em 2014 será inevitável. Mais. Ela já ocorre e a conjuntura só aponta para o seu hipertrofiamento. Sabendo de tal fraqueza discursiva da base governista, o grupo do vice governador Robinson Faria e, mais recentemente, o ex-secretário Fabio Hollanda saíram da gestão, enfatizando a falta de liberdade para tomar decisões e o desmedido papel que Carlos Augusto desempenha junto aos funcionários de primeiro escalão.

Bingo. O tiro argumentativo que pode ser mortal politicamente para a governadora é, estranhamente, fortalecido pela sua base de apoio e por grupos sociais que lhe dão sustentação. Não é incomum ler na imprensa rosalbista a narração dos feitos do Ravengar, como Carlos Augusto também é conhecido, e suas constantes viagens a Brasília para fechar apoios políticos e promover costuras engenhosas. O que pode parecer um elogio, até uma babação rasgada, rapidamente é convertido em sinalização para um senso comum compartilhado de que o ex-deputado é o ventríloquo e a governadora um mero boneco nas mãos do marido. A vaidade de Carlos Augusto (não reproduzo teorias americanas. Ator político também tem sentimento, história incorporada. Não é só razão), já evidenciada em vários “causos de bastidores” (ele adora se vangloriar pelos seus “feitos”), parece também impedir que ele, de fato, extremamente hábil politicamente, perceba o papel pernicioso que sua imagem representa para a sua mulher e “mergulhe” durante uns meses numa camada abaixo da do pré-sal. Suas aparições acabam reforçando ainda mais todo o imaginário em torno do rosalbismo hoje no poder.

Outra ideia força que continua sendo enfatizada é a de que Rosalba vai instituir uma república de Mossoró no RN. Pela falta de quadros preparados e até acostumados com o seu modo de governar, a rosa, como chama o jornalismo bajulatório, lançou mão de ex-secretários do tempo em que foi prefeita da principal cidade do oeste. Em resumo, se por um lado há o fato de que ela está fazendo uso de profissionais vindos de Mossoró; por outro, esta situação endossa todo um discurso que vem sendo gerido pela oposição desde a época em que ela ainda era candidata em 2010. A governadora chama para o seu primeiro escalão quem ela quiser. Afinal, ela venceu a eleição e é da democracia que, quem ganha, preencha os cargos de confiança com sua equipe. Porém, a disputa regional, bastante antiga na relação entre Mossoró e Natal, vem adicionando coloração política e está sendo muito bem administrada pela oposição. A acusação de que ela governa com e para Mossoró acaba por adquirir um verniz de verossimilhança com a realidade (o que não significa uma verdade inquestionável).

Cresce, para finalizar, uma terceira ideia força na sociedade norte-riograndense que ultrapassa os limites da capital. Cada vez mais as pessoas explicam o seu fracasso administrativo pela via da ausência de um projeto político (O plano de governo RN MAIOR anunciado no início da gestão, por enquanto, se assemelha mais a uma peça publicitária). Ainda que seja algo de menor impacto, esta leitura da ausência de um “norte” cria uma aproximação dela com Micarla de Sousa, a prefeita mais mal avaliada de Natal no nosso recente período democrático. E se se completar o pouso da borboleta na Rosa no imaginário popular, o revés político em 2014 poderá ser uma questão de tempo.


Daniel Menezes
 
Sociólogo, um dos fundadores da Carta Potiguar e membro do conselho editorial. Atuo profissionalmente na área de pesquisa de opinião e eleitoral e exerço a atividade de docência. Áreas de interesse: Política, Sociedade, Cotidiano. Email: danielgmenezes@hotmail.com

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