O papel que as ideias representam nos processos sociais e políticos foi o grande ponto de corte entre os pensadores Max Weber e Karl Marx. Weber, preocupado em demonstrar o aspecto material e, consequentemente, a força impulsionadora que as ideias geram, avançou para além do marxismo. Não o negou, conforme alguns que utilizam marxometro tentam demonstrar para criar uma rivalidade inexistente, além de infrutífera. Usou o velho barbudo, aliado a outros teóricos, para superá-lo. Há pelo menos três idéias-força que, solidificadas, retirarão os votos de Rosalba Ciarlini em Natal e, talvez, na grande-natal.

Os seus opositores estão conseguindo colar no governo à noção de que o ex-deputado estadual é o grande líder da atual gestão rosada. Enquanto Rosalba aparece cada vez mais como uma mulher subserviente, Wilma de Faria, um pouco desgastada, mas talvez, ainda hoje, a principal figura da oposição, construiu parte de sua imagem como uma mulher guerreira. Aquela capaz de desafiar “os poderosos”, inclusive, o próprio marido para seguir na consolidação do seu projeto político. A identidade wilmista se aproxima muito mais da figura da mulher urbanizada natalense do que a de Rosalba Ciarlini.
A comparação em 2014 será inevitável. Mais. Ela já ocorre e a conjuntura só aponta para o seu hipertrofiamento. Sabendo de tal fraqueza discursiva da base governista, o grupo do vice governador Robinson Faria e, mais recentemente, o ex-secretário Fabio Hollanda saíram da gestão, enfatizando a falta de liberdade para tomar decisões e o desmedido papel que Carlos Augusto desempenha junto aos funcionários de primeiro escalão.
Bingo. O tiro argumentativo que pode ser mortal politicamente para a governadora é, estranhamente, fortalecido pela sua base de apoio e por grupos sociais que lhe dão sustentação. Não é incomum ler na imprensa rosalbista a narração dos feitos do Ravengar, como Carlos Augusto também é conhecido, e suas constantes viagens a Brasília para fechar apoios políticos e promover costuras engenhosas. O que pode parecer um elogio, até uma babação rasgada, rapidamente é convertido em sinalização para um senso comum compartilhado de que o ex-deputado é o ventríloquo e a governadora um mero boneco nas mãos do marido. A vaidade de Carlos Augusto (não reproduzo teorias americanas. Ator político também tem sentimento, história incorporada. Não é só razão), já evidenciada em vários “causos de bastidores” (ele adora se vangloriar pelos seus “feitos”), parece também impedir que ele, de fato, extremamente hábil politicamente, perceba o papel pernicioso que sua imagem representa para a sua mulher e “mergulhe” durante uns meses numa camada abaixo da do pré-sal. Suas aparições acabam reforçando ainda mais todo o imaginário em torno do rosalbismo hoje no poder.
Outra ideia força que continua sendo enfatizada é a de que Rosalba vai instituir uma república de Mossoró no RN. Pela falta de quadros preparados e até acostumados com o seu modo de governar, a rosa, como chama o jornalismo bajulatório, lançou mão de ex-secretários do tempo em que foi prefeita da principal cidade do oeste. Em resumo, se por um lado há o fato de que ela está fazendo uso de profissionais vindos de Mossoró; por outro, esta situação endossa todo um discurso que vem sendo gerido pela oposição desde a época em que ela ainda era candidata em 2010. A governadora chama para o seu primeiro escalão quem ela quiser. Afinal, ela venceu a eleição e é da democracia que, quem ganha, preencha os cargos de confiança com sua equipe. Porém, a disputa regional, bastante antiga na relação entre Mossoró e Natal, vem adicionando coloração política e está sendo muito bem administrada pela oposição. A acusação de que ela governa com e para Mossoró acaba por adquirir um verniz de verossimilhança com a realidade (o que não significa uma verdade inquestionável).
Cresce, para finalizar, uma terceira ideia força na sociedade norte-riograndense que ultrapassa os limites da capital. Cada vez mais as pessoas explicam o seu fracasso administrativo pela via da ausência de um projeto político (O plano de governo RN MAIOR anunciado no início da gestão, por enquanto, se assemelha mais a uma peça publicitária). Ainda que seja algo de menor impacto, esta leitura da ausência de um “norte” cria uma aproximação dela com Micarla de Sousa, a prefeita mais mal avaliada de Natal no nosso recente período democrático. E se se completar o pouso da borboleta na Rosa no imaginário popular, o revés político em 2014 poderá ser uma questão de tempo.
Sociólogo, um dos fundadores da Carta Potiguar e membro do conselho editorial. Atuo profissionalmente na área de pesquisa de opinião e eleitoral e exerço a atividade de docência. Áreas de interesse: Política, Sociedade, Cotidiano. Email: danielgmenezes@hotmail.com
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