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O terceiro tempo de Marinho Chagas
O jornalista Milton Neves passou por Natal feito uma ventania de agosto, agitando tudo e tirando coisas do lugar, como a inércia de uma cidade nos cuidados que precisa ter com sua história e seus ídolos. O homem famoso pelos merchandisings na TV resolveu propagar em rede nacional sua admiração e atenção para com o ex-craque Marinho Chagas, único potiguar a disputar uma Copa do Mundo.
Consternado com o quadro de saúde da "Bruxa", que ele viu no auge da carreira com um vigor físico de arrebentar zagueiros do tipo vara-pau e com um talento de não respeitar nem mesmo o rei Pelé, em quem aplicou um petulante chapéu em pleno Maracanã, Milton assumiu o papel de tutor do glorioso lateral do Botafogo e da seleção brasileira.
Vi de perto, durante algumas horas em que estive com Milton Neves, na última sexta-feira, seu ar de estupefação diante da figura sempre ingênua e humilde do homem que um dia teve o mundo aos seus pés e que tantas alegrias deu aos milhões de torcedores do Brasil, não sómente na Copa em que foi uma estrela, mas também nos clubes que tiveram o prívilégio de contar com seu brilho, desde o Riachuelo e ABC, de Natal, passando pelo Náutico, de Recife, até o Botafogo, Fluminense, São Paulo e Cosmos, de Nova York.
Não exagero, nem é figura de linguagem dizer aqui que Milton Neves chorou ao falar de Marinho Chagas, em jantar com alguns amigos natalenses que o ciceronearam. Deve ter ensaiado verter lágrimas, também, ao entrevistar na manhã deste domingo o secretário de Turismo de Natal, Tertuliano Pinheiro, na rede de rádio da Band.
Mais uma vez, fez louvações à importância do futebol de Marinho para o Brasil e para o Rio Grande do Norte, e - como já havia escrito em seu site - apelou de novo para que as autoridades de Natal cuidem do patrimônio humano e lúdico que se ergueu em torno do fantástico jogador nascido na capital potiguar. Milton Neves cobrou a aprovação da nomeação de Marinho Chagas como "embaixador da Copa 2014", nada mais justo e significativo.
Não é segredo para o povo de Natal, principalmente para a gigantesca torcida do ABC, que vive um momento de êxtase com a pioneira conquista do campeonato brasileiro da série C, a situação física e financeira em que se encontra nosso maior jogador de todos os tempos, aquele que a mídia brasileira e mundial já considerou o segundo melhor lateral esquerdo da História, atrás apenas da lenda Nilton Santos.
Marinho vem há anos num ritmo de altos e baixos que em nada se assemelha com as suas maravilhosas idas e vindas pela lateral dos gramados, exercendo as funções acumulativas de defensor e atacante como quase mais ninguém conseguiu fazer com o seu jeito de jogar futebol. Como um menino em que apenas o corpo avançou pela fase adulta, passou pelo sucesso mundial e pelos reveses pessoais sem nem perceber o abismo entre as duas experiências.
Ao encontrar-se frente a frente com o ídolo caído, o jornalista Milton Neves sentiu como se um filme rodasse em minutos mostrando seu início de carreira a cobrir, ainda jovem, a estupenda carreira do lateral que encantava estádios num misto de galã de cinema e astro do rock 'n' roll. Na sexta-feira, almoçando com Marinho, ele percebeu que no corpo debilitado do ex-craque vivia ainda a mesma alma daquele outrora garoto louro que levantava uma arquibancada com os pés.
Foi então que, graças à força midiática que o hoje apresentador de TV tem em todo o Brasil, Milton Neves acabou por conceder a Marinho Chagas uma grande chance de recuperar sua saúde há muito abalada por uma hepatite C, gota e alcoolismo. Ao repetir na manhã deste domingo, 21, num bate-papo ao vivo pela rádio Band com Tertuliano Pinheiro, o apelo para que Natal cuidasse do seu ícone, foi surpreendido pela ligação de um médico dirigente do Hospital da USP, que se prontificou a realizar todo o tratamento que for necessário para Marinho.
Vamos todos torcer pelo restabelecimento da saúde do "Garrincha de Natal", como o chamou o próprio Milton Neves, que - aliás - com seu gesto, seu enorme coração e suas lágrimas poderá, quem sabe, estar permitindo a Marinho Chagas retomar o jogo da vida aos 58 anos. Que ele saia vencedor nesse terceiro tempo que o jornalista da Band conseguiu num domingo de muito Sol e futebol. Amém
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