Rio de Janeiro: guerra urbana provocada pela omissão do poder público
Por Jose Marlon Filgueira da Costa*
O clima de guerra, que se instalou na cidade do Rio de Janeiro, na verdade, é uma guerra anunciada.
Por que guerra anunciada? Porque o que tem projetado esse cenário de violência e de criminalidade é, exatamente, a omissão do poder público. Pois entrou governo, saiu governo e a situação foi se agravando ao longo dos anos.
Claro que sendo a cidade do Rio de Janeiro, juntamente com a cidade de São Paulo, uma megalópole, onde se localiza a maior concentração populacional brasileira, e, também, o centro financeiro do País, todo acontecimento: político, social, cultural e econômico etc., possuem repercussão gigantesca, inclusive com a ajuda da mídia.
O que não quer dizer que o nível de violência naquela cidade seja aceitável, pelo contrário, é insuportável.
No entanto quer dizer que esses acontecimentos, na segurança público dessa cidade, refletem, com maior proporção, o que ocorre nos demais Estados da Federação. Porém, deve servir de alerta para as autoridades constituídas que, em tese, têm o poder de mudar esse cenário de guerra anunciada.
O mais curioso é que a falta do poder público nas comunidades, provoca um retrocesso na história da evolução humana que, segundo Thomas Hobbes, pensador Inglês que no Século XVII, em seu livro “O Leviatã” com sua tese sobre a criação do Estado, chamou de “o homem lobo do homem”, o estado de natureza, onde imperava a lei do mais forte e o fator principal, nesse estado, é o medo da morte violenta.
Triste sina para uma parcela mais humilde da sociedade brasileira, viver sob o terror e o medo de morrer violentamente.
Como entender, então, essa omissão do Estado? Primeiro quando não temos educação e saúde de qualidade e a segurança pública não é tratada como uma política de Estado, além da falta de políticas públicas de inclusão, capazes de amenizar o sofrimento da população brasileira, principalmente dos jovens que são, proporcionalmente, os que mais diretamente estão envolvidos com a terrível chaga social, o tráfico de drogas.
Segundo porque em consequência dessa omissão, o tráfico de drogas se infiltrou nas comunidades carentes, onde encontrou um cenário favorável por não existir a presença efetiva do poder público. Portanto se projetou e se tornou uma espécie de crime organizado, configurando um poder paralelo ao Estado.
Em virtude dessa inércia, do poder público, o que mais me deixa triste é saber que essa guerra, desencadeada pelo governo, ou seja, esse enfretamento com os traficantes, não é a causa, em princípio, da vontade política em busca de melhoraria da qualidade de vida da população, e sim, a Copa em 2014, e, também, as Olimpíadas em 2016. Nesse caso, a melhoria da qualidade de vida da população será consequência.
E por que a melhoria da qualidade de vida da população não é a causa primeira dessa investida do Estado contra o trafico de drogas? Porque esses ataques, perpetrados pelos traficantes, não são novidades no Rio de Janeiro faz algum tempo. Inclusive Já foi pior, em momentos anteriores,quando caçaram policiais para matar e mataram,além de outras perversidades. No entanto, não foram rechaçados com a mesma competência que hoje o faz.
O pior é que, até agora, essa triste constatação, está passando despercebida pela população e pela mídia. Essa só enxergou alguns desvios de conduta de policias desonestos e as ações espetaculares das forças policiais. Já a população não enxerga porque está sufocada pelo tráfico e vê, nas ações governamentais, à esperança de liberdade. O que é razoável e compreensível, porém, à liberdade, é um bem essencial ao cidadão e imprescindível no Estado Democrático de Direito, no qual se fundamenta nossa República.
Diante desses fatos e desse cenário de guerra, por que passa o Rio de Janeiro, não poderia deixa de fazer um alerta as autoridades e a população potiguar em geral, pois dentre outros fatos ocorridos na área da segurança pública do nosso Estado, um, ocorrido na nossa “Capital dos Magos” me chamou à atenção, no entanto, não houve repercussão na mídia, pelo menos que eu tenha conhecimento, apenas entre os policias.
Foi uma ocorrência envolvendo policiais do 9º BPM, no bairro Guarapes, no dia 12 de outubro, por volta das 13h00, onde um perigoso traficante, conhecido por “colorau”,recebeu voz de prisão dos policias,sendo que um grupo de aproximadamente 300 pessoas: homens mulheres e até crianças, impediram que o citado marginal fosse levado, obrigando os policiais a soltarem o meliante, pois estavam com foices, enxadas e soltando fogos de artifícios, inclusive se utilizando de táticas de guerrilha,quando um líder que mandava atacar e recuar,dependendo da situação, dizia que naquele lugar quem mandava eram eles e nenhuma polícia tinha moral para entrar.
Consequentimente os policiais não tiveram alternativas, soltaram o traficante, pois mesmo estando presentes quatro guarnições, mas não chegando o reforço solicitado (BOPE, Choque etc.) ao local, não tiveram condições de agir diante daquelas pessoas.
Conclusão: acendeu a luz vermelha da segurança publica do nosso Estado, pois esse tipo de atitude reflete um grau de evolução da criminalidade em nossa cidade. Fato preocupante e que deve ser levado a sério.
Mais ainda, indica que não estamos preparados para lidar com uma possível migração de bandidos do quilate dos traficantes do Rio de Janeiro, que, diga-se de passagem, são profissionais do crime, especialistas em táticas de guerrilha urbana.
Com relação a essa preocupação, de migração da bandidagem para outros Estados, cito aqui o nobre jornalista e apresentador do repórter 98, Felinto Rodrigues, que em uma entrevista arquivada no site da Rádio 98, em data de 09/08/2010, com o coronel do exército, especialista em inteligência e gestão, Erland Correia Mota, já expressava essa preocupação.
Portanto é imperativo que se dê estrutura para as policias do RN, sob pena de nos tornamos um Rio de Janeiro, se já não somos, guardas as devidas proporções.
*Militar e estudante de Direito/UERN
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